Tiririca: o ‘herói’ covarde, mentiroso e contraditório

9 de dezembro de 2017 1204

Porto Velho, RO – Tiririca é sensacional como humorista, não restam dúvidas. Suas sacadas ligeiras e o jeitão abestalhado de falar e gesticular são capazes de despertar gargalhadas nos mais sisudos, nervosos, aborrecidos e antipáticos.

Não à toa Francisco Everardo Oliveira Silva sobrevive artisticamente – ainda comercialmente rentável – há mais de vinte anos fazendo a mesmíssima coisa incorporando o personagem que o colocou e o mantém na rota da fama durante todo esse período.

No entanto, Francisco Everardo jamais seria eleito ou ocuparia qualquer cargo político de relevância no Brasil não fosse o jocoso Tiririca, sua identidade artística.

O chamado voto de protesto o alavancou ao posto de deputado federal por São Paulo com duas votações extremamente expressivas que ultrapassaram a marca de 1 milhão de manifestações favoráveis ao pseudônimo. O famoso bordão “pior que tá não fica” foi, com seu primeiro e último manifesto no púlpito da Câmara Federal, obliterado sumariamente.

Tiririca mentiu. Levou quase três mil dias para contar a seus eleitores o que faz um parlamentar, algo que qualquer espectador desavisado poderia fazer sem embolsar um só centavo.

“Trabalha muito e produz pouco”, relatou em entrevista a Roberto Cabrini, no último Conexão Repórter.  

No Plenário, dias depois, esbravejou num surto conveniente de sinceridade diante de seu pífio rendimento legislativo o que todo mundo já sabe: deputado ganha 20, 22, 23 mil reais e não rende porcaria alguma em contrapartida, com raríssimas exceções.  E ele com certeza não está entre elas.

Todos pensaram que a insurreição fosse um ato de renúncia – equívoco noticiado pela imprensa nacional. E deveria ter renunciado ao mandato mesmo, pô!, já que está tão envergonhado e decepcionado assim com os camaradas.

Mas vem cá: qual é o malandro que larga um ano  de 'boquinha', meu filho? Renunciou nada! 

Voltando...

Esses R$ 23 mil multiplicados por 48 meses, período de dois mandatos, sem contar benefícios, auxílios e montantes de outras ordens farão de Tiririca um homem milionário só em salários na condição de autoridade pública. Ao fim do segundo mandato ele nos custará, reiterando, só em salários, mais de um milhão e cem mil reais. 

Demagogo e endinheirado, fez questão de vociferar que a mãe fora tratada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) como se fosse orgulho relegá-la a filas de espera e outras celeumas que só a cambaleante Saúde Pública brasileira pode nos proporcionar. Isto apenas para demonstrar que é preferível vê-la passar pelo mesmo sofrimento de quem não pode custear tratamento célere e particular através de um plano de saúde a mexer no bolso cheio de escorpiões. Como se o cidadão comum não movesse montanhas para salvar um familiar, gastando o que tem e o que não tem acumulando dívidas intermináveis.

Contraditório, apoiou todas as movimentações tacanhas do governo ilegítimo e golpista de Michel Temer (PMDB). Cabrini pode escrever o que quiser, já que sua reputação profissional o precede, mas Tiririca foi – e continua sendo – mero boneco de ventríloquo, desde o dia em que aceitou o convite oportunista do criminoso do colarinho branco Valdemar da Costa Neto para integrar o PR.

Perdido, atordoado e sem saber o que fazer, o humorista se posicionou pelo senso comum, inclusive quando votou favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) pressionado por colegas e contrariando as próprias raízes.

Ao SBT, disse que tentaram suborná-lo para votar a favor de Dilma na sessão do impeachment. Porém logo após o discurso “antológico” no Parlamento, declarou que votaria no ex-presidente Lula à Presidência da República em 2018 porque, entre todos os ocupantes do Alvorada, “foi o melhor para o povo”. Mais perdido do que cego em tiroteio, no mínimo. Eis o suprassumo da incoerência. 

E se havia alguma chance de algo de bom sair dessa cartola oca, esqueça. O comediante poderia ter promovido a autodestruição atirando, levando para a cova comum os tais corruptos que tentaram cooptá-lo, mas nem isso.

Acovardou-se, como todo medroso que tenta envergar-se com discursos genéricos que não servem a nada nem ninguém. Aliás, mentira. Na realidade esses discursos são verdadeiros mantras motivacionais absorvidos por carentes intelectuais, os que elegem heróis diariamente atraídos por verborragias sedutoras cuja prática é zero ou menos que isso. 

Por fim, é sintomático que o Brasil – país moralmente destruído – ostente em sua longuíssima ficha credencial de criaturas inacreditáveis agentes públicos satisfeitos apenas por comparecerem regularmente ao seu local de trabalho.

Às vezes é preciso ir diante de um espelho dar uns bons tabefes no próprio rosto para saber se estamos acordados ou não.

Chegamos ao ponto em que um político é condecorado socialmente e ovacionado por hordas físicas e virtuais porque saiu de casa para trabalhar: é o fim!

VISÃO PERIFÉRICA

POR: VINICIUS CANOVA